- Bom dia, meu nome é Gabriela e hoje eu acordei mais velha.
- Bom dia Gabriela |coro|
- Parecia uma quarta-feira comum; o despertador tocou e eu o ignorei uma, duas, três vezes. Criei coragem e levantei naquela manhã fria.
Cumpri meu ritual de sempre. Calcei os chinelos, que ficam na lateral da cama, vesti meu chambre, respirei fundo e levantei.
A tábua próxima à porta rangeu como faz todos os dias.
Segui em direção ao banheiro, cruzei o corredor e perdi alguns segundos olhando para a estante de livros, do outro lado da sala.
Entrei no banheiro ainda com a luz apagada; levantei a camisola, baixei a calcinha e fiz xixi. Eu ainda não fazia ideia da surpresa que me esperava.
|Silêncio profundo no ambiente|
Levantei despretensiosamente, puxei a descarga e só então acendi a luz.
O susto veio quando parei em frente ao espelho. O reflexo mostrou uma velha!
Foi assustador e o maior pavor era a semelhança entre ela e eu.
Nós nos parecíamos, mas sua pele era flácida e puxava para baixo como se houvesse uma fita adesiva prendendo; as pálpebras caiam sobre os olhos, que tinham uma cor diferente. Na verdade, um brilho diferente, estavam opacos.
Os cabelos eram ralos e desbotados; a pele mesclava entre o tom original e pequenas manchas espalhadas como que por espirro. Sem falar nas rugas sobre os lábios, ao redor dos olhos, na testa, pescoço.
Aquele reflexo não podia ser o meu. Onde estive enquanto isso ocorria?
É como se eu tivesse dormido jovem e acordado velha!
Preciso entender o que aconteceu neste período. O que fiz com minha vida?
E todos ou meus projetos, será que os realizei?
E meus amigos, será que me reconheceriam? Estão velhos também?
Onde foram parar estes 30, 40 anos?
Minha vida passou e não vi. E o pior: segue passando...
|lágrimas|
|palmas|
|cadeiras rangendo|
- Hoje temos uma nova pessoa no nosso grupo.
- Bom dia, meu nome é Gustavo e ontem completei 27 anos...
A juventude se esvai e o que vem é algo novo. A depreciação do nosso semblante externo só pode estar indicando, em contrapartida, a dilatação do nosso espaço interno. Nossa beleza vai virando ao avesso e começamos a ser belos de maneira mais complexa. A pele já é apenas capa de um conteúdo mais maduro e interessante. Diferentemente da juventude onde somos uma bela caixa à espera de um belo conteúdo, na velhice tal conteúdo já foi colocado no interior da caixa. O que acontece é que, num belo dia, um dia como essa manhã normal que descreveste, vemos o peso que ele faz na caixa.
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